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RESENHA: Cloud Atlas (A Viagem - 2012)

Baseado num livro de ficção científica, escrito por David Mitchell, Cloud Atlas produção dos irmãos Wachowski (criadores da trilogia Matrix). É o tipo de filme que divide opiniões por causa de seu roteiro diferente das estruturas padrões, e pode desagradar aqueles que esperam por 170 minutos de desgustação audiovisual fácil ou mediana. Mas, para os que possuem a mente mais disposta, a fim de decifrar e refletir as relações entre as diversas narrativas apresentadas no filme, bem como questões existenciais, filosóficas, espirituais, sociais e de outros tipos que permeiam a história, esse tempo será muito bem aproveitado.


Estranhei a obra literária não ter sido traduzida e comercializada aqui no Brasil, tendo em vista que as editoras adoram trazer para cá os títulos cujas iminentes adaptações cinematográficas ajudem a catapultá-los nas vendas. Infelizmente, para os leitores/espectadores curiosos, há apenas a versão em língua inglesa. Pelo pouco que sei sobre o livro, parece ser uma narrativa bastante complexa, que exige extrema atenção do leitor para não se perder na história. Aliás, essa mesma regra também vale para a adaptação, embora comenta-se que o filme conseguiu ser um pouco mais digerível que o livro, o que soa verdadeiro, pois a experiência audiovisual facilita a memória e permite maior facilidade em captar as relações entre as histórias separadas da trama.


A tradução, apesar de simplória, remete razoavelmente a ideia da história, que é realmente a viagem através de inúmeras vidas, no passado, presente ou futuro. Mas nessa resenha eu preferi abdicar de A Viagem e optei pelo título original, Cloud Atlas.


O filme é composto por histórias passadas em diferentes e distantes épocas da humanidade, desde o tempo da escravatura, passando pela modernidade, o contemporâneo, atingindo um futuro distópico cyberpunk e alcançando um mundo pós-apocalíptico onde a raça humana se vê em extinção. Cada uma dessas histórias encontra-se interligada de forma sutil, compartilhando os "mesmos personagens". Pela apresentação do trailer, deu para ter uma ideia de como funciona a conexão entre as histórias, conexão relevante o suficiente para transformar um vilão, num tempo passado, em herói no mais distante futuro, no caso do protagonista interpretado por Tom Hanks.


A introdução do filme apresenta uma rápida sequência de cenas alternando as histórias, sendo quase impossível perceber qualquer relação entre essas cenas. Já a primeira hora trata de apresentar o início de cada uma dessas histórias, e a única coisa possível a se fazer é conferir os atores que interpretam cada personagem em épocas distantes. Só então as transições entre as épocas começam a ficar mais rápidas e relacionáveis - o roteiro muitas vezes se utiliza de palavras e ações no final de uma cena que, de alguma forma, se assemelhe ou se relacione ao início da cena seguinte em outra história, tornando os avanços e retrocessos no tempo menos abruptos e mais coerentes.


Muito além da proposta espiritual da vida que atravessa gerações, o filme também trabalha algumas críticas interessantes, principalmente no cenário distópíco de Neo Seul, onde uma garçonete "fabricada" descobre, junto com o comandante de uma Resistência, as maravilhas do mundo fora de seu trabalho alienado, e por isso, perseguidos eventualmente pelo governo. Esse casal, aliás, é um dos relacionamentos mais bonitos do filme, em diversas épocas. São eles que dão o tom romântico e mais emocionante à história.


Certamente, Cloud Atlas não é para ser totalmente compreendido de uma só vez. A narrativa é recheada de boas passagens que despertam a reflexão e a sensibilidade das pessoas, tornando o filme bem amalgamado e interessante. Merece ser assistido mais uma ou duas vezes, a risco de mergulhar e se encantar ainda mais com seu conteúdo disperso, e, pouco a pouco, discernir referências, repensar suas questões e descobrir detalhes que possam ter passado despercebido anteriormente. Por exemplo, Sonmi-451, a personagem "fabricada" de Nova Seul, provavelmente possui essa numeração porque é uma alusão ao livro Fahrenheit 451, obra clássica de ficção distópica.


A música-tema, tocada por um personagem numa das histórias e reutilizada com outros instrumentos durante o filme, é muito bonita e marcante. Para quem viu o filme e se perdeu nas transformações dos personagems, aqui vai um mapa interessante que achei num site:

Em suma, não é um Matrix, mas é um filme admirável pela ousadia em trazer algo diferente para o público. Vale muito a pena assistir, não uma só mas várias vezes!

TRAILER LEGENDADO

© 2015 por Pipocult - "Sou um nerd a mais tempo!" - Guttão Sorocaba

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